Construção


Meus pais me dão tapas nos ombros me parabenizando pela bela casa escarlate que estou construindo. As doces palavras não chegam aos meus ouvidos. Quanto tempo tenho que aguentar? Por quanto tempo vou conseguir levantar as paredes? Olho para o musgo que finge ser grama. Os turistas pensam que o solo é fértil, mas se olhar de perto perceberá que na verdade é seco, é árido.

Decido abandonar a obra, fujo para qualquer lugar. Estou sentada na cadeira fria esperando o filme começar. Ando pelas ruas a procura da cor mais bela. Eu sei onde elas estão. Desço a rua asfaltada, as casas começam a ficar mais simples. Encontro pequenas barracas anil. Converso com os moradores, eles me contam histórias sofridas, histórias alegres, histórias que me enchem de esperança, e outras que esmagam meu coração.

Nem tudo é espinho, eles dizem. Há mansões coloridas com a mais bela cor. Mansões! Poucas, mas há.

Me afasto dos moradores. Encontro no lixo tijolos de todas as cores: laranja, verde, amarelo e pedaços de pano azul que dariam uma bela cortina. Choro. Meu amigo chega antes que eu possa secar minhas lágrimas. Ele me pergunta o que aconteceu. Aponto para o lixo. Ele não entende, talvez nunca entenda.

Volto para casa. Finjo que está tudo bem. Pego o tijolo e o cimento. Retomo a construção. Todos dizem que a cor que escolhi é linda, que os quartos serão enormes, que o banheiro será um luxo, que minha casa será a mais bela da rua.

Mal eles sabem que no fundo eu trocaria a mansão vermelha pela barraca azul.

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